segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

CONTO> Conceito

Conto
Quem conta um conto, aumenta um ponto.”

Foi dessa forma que esse tipo de texto surgiu. Não sendo por acaso seu nome, o conto teve início junto com a civilização humana. As pessoas sempre contaram histórias, reais ou fabulosas, oralmente ou através da escrita. O conceito de conto, hoje em dia, foi ampliado em relação a este citado acima. Isto se dá porque escritores passaram a adotar esse tipo de texto como uma forma de escrever, e essa tentativa tem sido promissora. Além de utilizar uma linguagem simples, direta, acessível e dinâmica o conto é a narração de um fato inusitado, mas possível, que pode ocorrer na vida das pessoas embora não seja tão comum.
Essa praticidade tem atraído leitores de todas as idades e níveis intelectuais. Inclusive aqueles que não têm o costume de ler ou que ainda estão começando a adquirir este hábito. Não é um texto denso, que exija grande esforço intelectual para ser compreendido, e por isso mesmo é tão bem aceito em diversos tipos de meios de comunicação, não somente através dos livros.
Como narrativa oral o conto surge no Brasil trazido pelos portugueses, e até hoje é fortemente propagado, em diversas regiões do país. São as chamadas “estórias de Trancoso”.
Como narrativa escrita o conto surge na literatura Brasileira durante o início do Romantismo, mas os autores românticos não conseguiram se destacar através desse tipo de texto. O primeiro grande contista brasileiro, Machado de Assis, iria surgir no início do Realismo, e seu nome se tornaria consagrado pelo brilhantismo com que dominava as palavras.
Há algumas características que podem nos ajudar a identificar ou até mesmo a produzir um conto:
  • É uma narrativa linear e curta, tanto em extensão quanto no tempo em que se passa.
  • A linguagem é simples e direta, não se utiliza de muitas figuras de linguagem ou de expressões com pluralidade de sentidos.
  • Todas as ações se encaminham diretamente para o desfecho.
  • Envolve poucas personagens, e as que existem se movimentam em torno de uma única ação.
  • As ações se passam em um só espaço, constituem um só eixo temático e um só conflito.
  • A habilidade com as palavras é muito importante, principalmente para se utilizar de alusões ou sugestões, frequentemente presentes nesse tipo de texto.
Além de fecundo na diversidade temática, os contos brasileiros são fecundos na produção. Talvez isso aconteça porque os contos produzidos no Brasil, principalmente a partir do modernismo, tem adquirido identidade própria e se manifestado das mais diversas maneiras, de modo que dificilmente são fiéis às características acima citadas.
Podemos até arriscar falar sobre alguns tipos de contos, como os contos alegóricos, os contos fantásticos, os contos satíricos, os contos de fadas, entre outros, mas não podemos traçar características fixas para eles, justamente devido a essa liberdade que os autores têm de imprimir novas características a cada conto que produzem.

Crônica Literária

A palavra crônica é derivada do latim Chronica e do grego Khrónos (tempo), e significado principal que acompanha esse tipo de texto é exatamente o conceito de tempo. A crônica é o relato de um ou mais acontecimentos em um determinado tempo. A quantidade de personagens é reduzida, podendo inclusive não haver personagens. É a narração de um fato do cotidiano das pessoas, algo que naturalmente acontece com muitas pessoas. Esse fato é incrementado com um tom de ironia e bom humor, fazendo com que as pessoas vejam por outra ótica aquilo que parece óbvio demais para ser observado.
Um dos segredos de uma boa crônica é a ótica com que se observam os detalhes, é através disso que vários cronistas podem fazer um texto falando do mesmo fato ou assunto, mas de forma individual e original, pois cada um observa de um ângulo diferente e destaca aspectos diferentes.
Quando a crônica surgiu era um relato de acontecimentos históricos, que eram registrados por ordem cronológica. Podia usar uma visão mais geral ou mais particular, assim como podia destacar fatos mais relevantes ou secundários. A partir de Fernão Lopes, no século XVI, é que a crônica começou a tomar uma perspectiva individual ou interpretativa.
A crônica de teor crítico surgiu junto com a imprensa periódica (folhetins e jornais), no século XIX. Começou com um pequeno texto de abertura que falava de maneira bem geral dos acontecimentos do dia. Depois passou a assumir uma coluna nos folhetins (coluna da primeira página do periódico) e por fim adentrou de vez ao Jornalismo e à Literatura.
A característica mais relevante de uma crônica é o objetivo com que ela é escrita. Seu eixo temático é sempre em torno de uma realidade social, política ou cultural. Essa mesma realidade é avaliada pelo autor da crônica e uma opinião é gerada, quase sempre com um tom de protesto ou de argumentação. Esse tipo de crônica pode ser simplesmente argumentativa, e dispensar o uso da narração. É possível que percam-se assim, elementos típicos do gênero como personagens, tempo, espaço.
Sendo assim podemos identificar duas maneiras de se produzir uma crônica: a primeira é a narrativa, que como já foi dito, conta um fato do cotidiano, utilizando-se de personagens, enredo, espaço, tempo, etc. A outra maneira é a crônica dos textos jornalísticos, é uma forma mais moderna do gênero, e ao contrário da outra não narra e sim disserta, defende ou mostra um ponto de vista diferente do que a maioria enxerga.
As semelhanças entre as duas são justamente o caráter social crítico, abordando sempre uma maneira de enxergar a realidade, e o tom humorístico, irônico ou até mesmo sarcástico. Podem se utilizar, para esse objetivo, de “personagens tipo”, da sociedade que criticam.
Não se pode confundir a crônica com outros gêneros como o conto ou a fábula, estes têm características individuais que os diferenciam daquela.
A crônica conta um fato comum do dia a dia, relatam o cotidiano da vida real das pessoas, enquanto o conto e a fábula contam fatos inusitados ou até fantásticos. Ou seja, distantes da realidade.

A literatura de informação

  

A literatura de informação        

As primeiras manifestações literárias em terras brasileiras ocorreram no período do Brasil-Colônia. Destacam-se como tais, um conjunto de obras portuguesas ocorridas a partir do século XVI, manifestadas por meio dos escritos produzidos pelos viajantes, no intento de relatar as descobertas marítimas e terrestres.
Cabe ressaltar que antes do período que se refere às Grandes Navegações, os povos europeus consideravam estar no centro do mundo, uma vez que todas as partes, até então desconhecidas, eram concebidas como pertencentes a elementos fantásticos. Após iniciadas as grandes expedições marítimas, reverteu-se toda esta ótica.
Por meio delas, estas fantasias foram cedendo lugar a fatos reais, principalmente com a conquista e a colonização de novas terras, visto que as consequências econômicas, políticas e morais, relacionadas às mesmas, tornavam-se cada vez mais importantes “aos olhos de Portugal”.
Desta forma, as obras produzidas neste período são de caráter informativo, e ao conjunto dos referidos relatos, atribuímos o nome de Literatura de Informação ou Literatura dos Cronistas e Viajantes. Os textos, escritos em prosa, eram bem aceitos em Portugal e na Espanha, pois as paisagens exuberantes e os costumes exóticos ligados à natureza do homem brasileiro atendiam plenamente aos interesses econômicos, principalmente do colonizador.
Dentre estas obras, destacam-se como mais importantes:
Carta de Pero Vaz de Caminha, dirigida ao rei D. Manuel, relatando o descobrimento e as principais impressões da nova terra;


Diário de navegação, de Pero Lopes de Souza (1530);


 Tratado da terra do Brasil e história da Província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos de Brasil, de Pero de Magalhães Gândavo (1576);


Narrativa epistolar e Tratado das terras e das gentes do Brasil, de Fernão Cardim (1583);


 Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Souza (1587);


Diálogos das grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão (1618);


Cartas escritas pelos jesuítas durante os dois primeiros séculos da catequese;

História da conversão dos gentios,
do Pe. Manuel da Nóbrega;

 História do Brasil, de Feri Vicente de Salvador (1627);

 Duas viagens ao Brasil, de Hans Staden (1557);

 Viagem à terra do Brasil, de Jéan Léry (1578).

A literatura de CatequeseCompondo o quadro da literatura de informação, destaca-se também a literatura de catequese, a qual pertencia aos escritos dos jesuítas que chegaram ao Brasil a partir de 1549. Pertenciam à Companhia de Jesus, organizada por Ignácio de Loyola, visando recuperar o poder e o prestígio preconizado pela Igreja Católica após a Reforma Protestante.
Assim sendo, defendiam a fé contra os ataques de protestantes e hereges, propagando-a aos mais distantes lugares da terra, convertendo muçulmanos, budistas e até os habitantes nativos das terras recém descobertas. Com base neste propósito, fundaram vários colégios na Europa e América, pois viam a educação como um instrumento viável para tal realização.

Entre seus principais representantes, citam-se os padres Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e José de Anchieta. Ao chegar aqui, Manuel da Nóbrega, juntamente com outros membros da Companhia de Jesus, mantiveram uma vasta correspondência sobre como se deu sua obra catequética, focalizando hábitos, costumes, língua e, sobretudo, as relações que mantinham entre os colonos e os jesuítas.
José de Anchieta destacou-se de modo relevante, em razão de sua produção de caráter pedagógico e moral, retratada em forma de poemas e peças teatrais. As representadas por cartas, relatórios e crônicas caracterizavam-se como prosa informativa, além de sermões, peças teatrais e poesias, todas escritas em português, espanhol e tupi-guarani.
A popularidade é característica marcante no teatro de José de Anchieta, pautado por uma linguagem simples e composto por uma técnica rudimentar, retoma uma tradição baseada nos autos de Gil Vicente, como também nos moldes proferidos durante a Idade Média.
Como podemos perceber, a produção concernente a este jesuíta possui um amplo valor significativo no processo de formação de nossa cultura, em razão de o mesmo ter se incumbido diante da tentativa de conferir uma expressão literária às novas condições do homem em solo brasileiro.


domingo, 21 de dezembro de 2014

Laços de Família de Clarice Lispector


 Laços de Família 
É uma coletânea de contos, publicada em 1960, da escritora Clarice Lispector e eles se interligam através de uma temática comum a quase todos: o desentendimento familiar. As personagens criadas pela autora são pessoas comuns, massacradas pela banalidade comum a existência, mas que buscam a libertação.
É nesse processo de libertação que se encontra a epifania máxima que surge exatamente na fusão do eu e do mundo, representada por meio da ruptura da monotonia cotidiana por um instante de iluminação repentina na consciência da personagem. A família, no entanto, parece escravizar o indivíduo, impossibilitando-o de vivenciar ao máximo esse estado de êxtase. Fato evidente no conto “Amor”.
Sabe-se que a rotina é responsável por enfraquecer os laços de família, mas também prende o indivíduo, impossibilitando-o de encontrar a libertação do seu eu.

O livro reúne treze contos, seis deles publicados previamente na coletânea Alguns Contos:
Devaneio e embriaguez duma rapariga
Amor
Uma galinha
A imitação da rosa
Feliz aniversário
A menor mulher do mundo
O jantar
Preciosidade
Os laços de família
Começos de uma fortuna
Mistério em São Cristóvão
O crime do professor de matemática
O búfalo

ESTRUTURA DA OBRA
Laços de família reúne treze contos, sendo que doze deles são narrados em terceira pessoa e apenas “O jantar” é narrado em primeira pessoa. Em todos eles a figura da família está presente nos contos da obra e através deles percebem-se os impasses do relacionamento familiar.
Há outra forma de organizar os contos de Laços de família, segundo Benedito Nunes, tendo como eixo central a tensão de conflito de transe nauseante (Amor), de cólera (Feliz aniversário), de ira (O jantar), de ódio (O búfalo), de loucura (A imitação da rosa), de medo (Preciosidade), de culpa (O crime professor de matemática); situação de confronto, não somente de pessoa a pessoa (O jantar, Amor, Feliz aniversário), porém também de pessoa a coisa (Amor, O crime do professor de matemática, A imitação da rosa).

ESTILO DE ÉPOCA
Laços de família enquadra-se na terceira geração do Modernismo brasileiro, mais especificadamente no Neomodernismo, ou geração de 1945. Conheça as características mais importantes para essa classificação: emprego do fluxo de consciência (o narrador deixa o pensamento fluir livremente); sondagem psicológica (análise profunda dos estados de alma das personagens); emprego de monólogo interior (o narrador conversa consigo mesmo); pesquisa da linguagem (abolição de construções sintáticas e pontuações tradicionais); uso da metalinguagem; anulação dos limites espaciotemporais; postura anticonvencional.

By Mari Kummer
Professora de língua Portuguesa/Literatura

O Realismo e o Naturalismo



O Realismo e o Naturalismo no Brasil

O Realismo e o Naturalismo apresentam semelhanças e diferenças entre si. O Realismo retrata o homem interagindo com seu meio social, enquanto o Naturalismo mostra o homem como produto de forças “naturais”, desenvolve temas voltados para a análise do comportamento patológico do homem, de suas taras sexuais, de seu lado animalesco.
O Realismo brasileiro é completamente diferente do europeu
A obra de seu principal autor, Machado de Assis, escapa de qualquer tentativa de classificação esquemática.
A partir da segunda metade do século 20, as concepções estéticas que nortearam o ideário romântico começaram a perder espaço. Uma nova tendência, baseada na trama psicológica e em personagens inspirados na realidade, toma conta da literatura ocidental. Estava inaugurado o Realismo-Naturalismo.
No Brasil, essa passagem ocorre em 1881, com a publicação de Memória Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1839-1908), e de O Mulato, de Aluísio Azevedo (1857-1913). Enquanto o livro de Machado apresenta acentuado viés realista, o de Aluísio é claramente naturalista.
Na fase madura, Machado produz uma literatura essencialmente problematizadora. Com minuciosa investigação psicológica, ele indaga a existência humana. Ele ainda substitui o determinismo biológico por acentuado pessimismo existencialista e discute temas como a relatividade da loucura e a exploração do homem pelo próprio homem.
A intertextualidade e a metalinguagem marcam o estilo de Machado. O uso da linguagem poética, do jogo proposital de ambigüidades, da recuperação de lugares comuns e do microrrealismo psicológico também são características fundamentais da obra machadiana. Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires são alguns romances do autor.
Os naturalistas acreditavam que o indivíduo é mero produto da hereditariedade e seu comportamento é fruto do meio em que vive e sobre o qual age.
A perspectiva evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas, esses acreditavam ser a seleção natural que impulsionava a transformação das espécies.
Assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõem a personalidade humana.
Ao lado de Darwin, Hippolyte Taine e Auguste Comte influenciaram de modo definitivo a estética naturalista.
Os autores naturalistas criavam narradores oniscientes, impassíveis para dar apoio à teoria na qual acreditavam. Exploravam temas como o homossexualismo, o incesto, o desequilíbrio que leva à loucura, criando personagens que eram dominados por seus instintos e desejos, pois viam no comportamento do ser humano traços de sua natureza animal.
No Brasil, a prosa naturalista foi influenciada por Eça de Queirós com as obras O Crime do Padre Amaro e O primo Basílio, publicadas na década de 1870.
Aluísio de Azevedo com a obra O mulato, publicada em 1881, marcou o início do Naturalismo brasileiro, a obra O cortiço, também de sua autoria, marcou essa tendência.
Em O cortiço a face completa do Naturalismo pode ser vista, nessa obra o indivíduo é envolvido pelo meio, o cenário é promíscuo e insalubre e retrata o cruzamento das raças, a explosão da sexualidade, a violência e a exploração do homem.
Além de Aluízio de Azevedo e Eça de Queirós, existem outros escritores que se destacaram como Júlio Ribeiro com o romance A carne (1888); Adolfo Caminha com A normalista (1893) e O bom-crioulo; Raul Pompéia com O Ateneu (1888).
Naturalismo
Vale lembrar que o Realismo-Naturalismo brasileiro oferece amplo painel de uma época em que o país era monárquico, escravocrata, patriarcalista e passava por profundas mudanças socioeconômicas e culturais, com acentuado caráter investigativo e cuidadosa análise de comportamentos sociais.
A riqueza literária do Realismo-Naturalismo no Brasil não se restringe à prosa de ficção. A dramaturgia também evolui e consolida a comédia de costumes como um gênero maior – na obra de França Júnior e Artur Azevedo, por exemplo.
O Realismo e o Naturalismo apresentam semelhanças e diferenças entre si. O Realismo retrata o homem interagindo com seu meio social, enquanto o Naturalismo mostra o homem como produto de forças “naturais”, desenvolve temas voltados para a análise do comportamento patológico do homem, de suas taras sexuais, de seu lado animalesco.
O Realismo brasileiro é completamente diferente do europeu. 
A obra de seu principal autor, Machado de Assis, escapa de qualquer tentativa de classificação esquemática.
A partir da segunda metade do século 20, as concepções estéticas que nortearam o ideário romântico começaram a perder espaço. Uma nova tendência, baseada na trama psicológica e em personagens inspirados na realidade, toma conta da literatura ocidental. Estava inaugurado o Realismo-Naturalismo.
No Brasil, essa passagem ocorre em 1881, com a publicação de Memória Póstumas de Brás Cubas, de  Machado de Assis (1839-1908), e de Mulato, de Aluísio Azevedo (1857-1913). Enquanto o livro de Machado apresenta acentuado viés realista, o de Aluísio é claramente naturalista.
Na fase madura, Machado produz uma literatura essencialmente problematizadora. Com minuciosa investigação psicológica, ele indaga a existência humana. Ele ainda substitui o determinismo biológico por acentuado pessimismo existencialista e discute temas como a relatividade da loucura e a exploração do homem pelo próprio homem.
A intertextualidade e a metalinguagem marcam o estilo de Machado. O uso da linguagem poética, do jogo proposital de ambiguidades, da recuperação de lugares comuns e do microrrealismo psicológico também são características fundamentais da obra machadiana. Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires são alguns romances do autor.
Os naturalistas acreditavam que o indivíduo é mero produto da hereditariedade e seu comportamento é fruto do meio em que vive e sobre o qual age.
A perspectiva evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas, esses acreditavam ser a seleção natural que impulsionava a transformação das espécies.
Assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõem a personalidade humana.
Ao lado de Darwin, Hippolyte Taine e Auguste Comte influenciaram de modo definitivo a estética naturalista.
Os autores naturalistas criavam narradores oniscientes, impassíveis para dar apoio à teoria na qual acreditavam. Exploravam temas como o homossexualismo, o incesto, o desequilíbrio que leva à loucura, criando personagens que eram dominados por seus instintos e desejos, pois viam no comportamento do ser humano traços de sua natureza animal.
No Brasil, a prosa naturalista foi influenciada por Eça de Queirós com as obras O crime do padre Amaro e O primo Basílio, publicadas na década de 1870. Aluísio de Azevedo com a obra O mulato, publicada em 1881, marcou o início do Naturalismo brasileiro, a obra O cortiço, também de sua autoria, marcou essa tendência.
Em O cortiço a face completa do Naturalismo pode ser vista, nessa obra o indivíduo é envolvido pelo meio, o cenário é promíscuo e insalubre e retrata o cruzamento das raças, a explosão da sexualidade, a violência e a exploração do homem.
Além de Aluízio de Azevedo e Eça de Queirós, existem outros escritores que se destacaram como Júlio Ribeiro com o romance A carne (1888); Adolfo Caminha com A normalista (1893) e O bom-crioulo; Raul Pompéia com O Ateneu (1888)
O principal autor naturalista no Brasil é Aluísio Azevedo. A O determinismo social predomina em sua obra, construída através de observação rigorosa do mundo físico e da zoomorfização das personagens. Aluísio é autor de O mulato, Casa de pensão e O cortiço, a riqueza literária do Realismo-Naturalismo no Brasil não se restringe à prosa de ficção. A dramaturgia também evolui e consolida a comédia de costumes como um gênero maior – na obra de França Júnior e Artur Azevedo, por exemplo. 
Vale lembrar que o Realismo-Naturalismo brasileiro oferece amplo painel de uma época em que o país era monárquico, escravocrata, patriarcalista e passava por profundas mudanças socioeconômicas e culturais.bras com acentuado caráter investigativo e cuidadosa análise de comportamentos sociais.
A riqueza literária do Realismo-Naturalismo no Brasil não se restringe à prosa de ficção. A dramaturgia também evolui e consolida a comédia de costumes como um gênero maior – na obra de França Júnior e Artur Azevedo, por exemplo.

By  Mari Kummer
Professora de Língua Portuguesa/Literatura

Para que serve a literatura


Para que serve a literatura
A literatura serve, por certo, para dar prazer e satisfação para todos, mas só os bons levam a sério suas mensagens humanistas: os demais permanecem indiferentes. Bons livros não convencem uma pessoa má a melhorar. Pode-se supor que alguém que tenha sido pago para assassinar, na sua infância tenha sido um leitor entusiasmado de Monteiro Lobato.
As mensagens humanistas dos livros só atingem as pessoas predispostas para a sua recepção. É provável que os romancistas estejam condenados a "pregar aos convertidos", a convencer aos convencidos, como tinha o costume de escrever o sociólogo Pierre Bourdieu.
Mesmo assim, um pioneiro investigador dos segredos humanos como Freud não dispensava os conhecimentos propiciados pela literatura. Para o fundador da psicanálise “...os poetas e romancistas são aliados preciosos, e seu testemunho deve ser tido em alta estima pois eles conhecem, entre o céu e a terra, muitas coisas com as quais nossa sabedoria escolar não poderia sequer sonhar. Eles são para nós, que não passamos de homens vulgares, mestres no conhecimento da alma, pois se banham em fontes que ainda não se tornaram acessíveis à ciência.”
Com tudo isso, não deixo de pensar que após a leitura de um livro como Levantado do Chão, de Saramago, que descreve o sofrimento e a luta dos trabalhadores rurais portugueses, nenhum dirigente do Fundo Monetário Internacional deixará de impor aos países devedores as medidas econômicas que levam a fome e o sofrimento para milhões de pessoas em todo o mundo.
Talvez a literatura sirva mesmo é para convencer os convencidos a permanecerem contra todas as formas de opressão do humano. Se servem para tanto, isso já é um grande bem, pois, embora aqueles que não praticam o bem continuem difundindo o mal, não conseguirão jamais impor a ideia de que ser humano é ser apenas como são.
Apesar disso, como nos ensina o crítico literário Antônio Cândido, a literatura contribui para que se confirmem em cada um de nós "...aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor".

AS ESCOLAS LITERÁRIAS E SUAS ÉPOCAS


sábado, 20 de dezembro de 2014

O ARCADISMO NO BRASIL

O ARCADISMO NO BRASIL

O Arcadismo desenvolveu-se no Brasil do século XVIII e se prendeu ao estado de Minas Gerais, onde se havia descoberto ouro, fato que marcou o local como centro econômico e, portanto, cultural da colônia portuguesa.
No apogeu da produção aurífera, entre as 1740 e 1760, Vila Rica (hoje Ouro Preto) e o Rio de Janeiro substituíram a cidade de Salvador como os dois polos da produção e divulgação de ideias.
Os ideais do Iluminismo francês eram trazidos da Europa pelos poucos membros da burguesia letrada brasileira - juristas formados em Coimbra, padres, comerciantes, militares.
Alguns autores destacados desse momento são Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama e José de Santa Rita Durão.
A elite jovem brasileira, entre os anos de 1768 a 1836 (período árcade) ia buscar conhecimento em Coimbra (Portugal), o que fez com que a influência dos autores europeus árcades chegasse ao país através da literatura, da elite intelectual. Os ideais iluministas que estes jovens traziam da Europa serviram de base para que fossem contra as idéias do governo e para a concretização da Inconfidência Mineira.
Em meio a esta situação social e política, o Arcadismo chegava à literatura brasileira, rompendo assim, com a estética barroca, em 1768, através da publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa. O movimento árcade permaneceu como tendência literária até o início do Romantismo.
Características
Pastoral de outono, por François Boucher. Representação do pastoralismo.
Delimita-se o Arcadismo no Brasil entre os anos de 1768 (publicação das Obras poéticas, de Cláudio Manuel da Costa) e 1836 (início do Romantismo).
Apesar dos traços do cultismo barroco em alguns poetas, a maioria deles procurou seguir as convenções dos neoclassicistas europeus. 
São elas:
 *   Utilização de personagens mitológicas;
  * Idealização da vida campestre (bucolismo);
  *  Eu lírico caracterizado como um pastor e a mulher amada como uma pastora (pastoralismo ou fingimento poético);
   *  Ambiente tranquilo, idealização da natureza, cenário perfeito e aprazível (locus amoenus);
   *Visão da cidade como local de sofrimento e corrupção (fugere urbem, fugir da cidade em latim);
   * Elogio ao equilíbrio e desprezo às extremidades (aurea mediocritas - expressão de Horácio);
   * Desprezo aos prazeres do luxo e da riqueza (estoicismo);
   * Cortar o inútil ("inutilia truncat")
   *Aproveitamento do momento presente, aproveitar a vida, devido à incerteza do amanhã. Vivência plena do amor durante a juventude, porque a velhice é incerta (carpe diem).

Além das características trazidas da Europa, o arcadismo no Brasil adquiriu algumas particularidades temáticas abaixo apontadas:
    Inserção de temas e motivos não existentes no modelo europeu, como a paisagem tropical, elementos da flora e da fauna do Brasil e alguns aspectos peculiares da colônia, como a mineração, por exemplo;
    Episódios da história do país, nas poesias heroicas;
    O índio como tema literário.
Esses novos temas já prenunciam o que seria o Romantismo no Brasil: a representação do indígena e da cor local.
Poesia lírica
A poesia lírica, no Brasil, fica a cargo, principalmente, de Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, sendo deste último a principal obra árcade do país: Marília de Dirceu.
    Soneto
    Destes penhascos fez a natureza
    O berço, em que nasci: oh quem cuidara
    Que entre penhas tão duras se criara
    Uma alma terna, um peito sem dureza!
    Amor, que vence os Tigres, por empresa
    Tomou logo render-me; ele declara
    Contra o meu coração guerra tão rara,
    Que não me foi bastante a fortaleza.
    Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
    A que dava ocasião minha brandura,
    Nunca pude fugir ao cego engano:
    Vós, que ostentais a condição mais dura,
    Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
    Onde há mais resistência, mais se apura.
  Cláudio Manuel da Costa
O introdutor do Arcadismo no Brasil estudou Direito em Coimbra e voltou à terra natal para exercer a profissão e cuidar de sua herança. Apesar da vida pacata em Vila Rica, foi ele uma das vítimas do rigor com que o governo português tratou os participantes da Inconfidência Mineira. Preso em maio de 1789, após um interrogatório, em julho, foi encontrado enforcado em seu cárcere. Há a hipótese de ter sido assassinado.
Como poeta de transição sua poesia ainda está ligada ao cultismo barroco, em vários aspectos. Mesmo assim, era respeitado, admirado e tido como mestre por outros poetas árcades, como Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto.
Sua obra lírica é constituída, principalmente, de éclogas e sonetos.
 Dentre elas, são dignas de destaque Obras poéticas - obra que introduziu o Arcadismo - e Vila Rica - poema épico.
Tomás Antônio Gonzaga.
Português de nascimento, Tomás Antônio Gonzaga passou sua infância no Brasil. Voltou a Portugal e se formou em Coimbra. A partir de 1782 passou a exercer o cargo de ouvidor em Vila Rica.
Apaixonou-se aos 40 anos de idade por Maria Doroteia Joaquina de Seixas, de 17 anos. A família da moça se opôs ao namoro. Quando estava prestes a vencer as resistências, foi preso e enviado para a ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, por ter participado da Inconfidência Mineira, em 1789.
Os últimos anos de sua vida, passou exilado em Moçambique, casado com a filha de um comerciante de escravos. Nunca se casou com Maria Dorotéia, mas transformou esse namoro no primeiro mito amoroso da literatura brasileira e nele inspirou uma das mais importantes obras líricas da língua.
Marília de Dirceu
Frontispício da edição de 1824.
As Liras de Tomás Antônio Gonzaga, popularmente conhecidas como Marília de Dirceu, constituem a obra poética de maior relevância do século XVIII do Brasil e do Neoclassicismo em língua portuguesa.
Duas tendências são perceptíveis nas liras de Gonzaga, assim como é possível observar na obra do português Bocage, da mesma época: 
   O equilíbrio e o contentamento do Arcadismo, além da utilização das paisagens neoclássicas: o pastor, a pastora, o campo, a serenidade do local etc.; O pré-Romantismo representado no emocionalismo, na manifestação pungente da crise amorosa e, logo após, na prisão, que reproduzem a crise existencial do poeta.

A todo momento, a emoção rompe a estilização arcádica, surgindo, assim, uma poesia de alta qualidade e competência,
Dividida em duas partes mais uma terceira, cuja autenticidade é contestada por alguns críticos, Stefani Joanne narra o drama amoroso vivido por Gonzaga e Maria Dorotéia.

    1ª parte: reúne os poemas anteriores à prisão de Gonzaga. Nela é mais evidente as composições convencionais: Dirceu contempla a beleza da pastora Marília em pequenas odes anacreônticas. Em algumas liras, o poeta não consegue disfarçar suas confissões amorosas. Mostra-se ansioso por amar uma moça muito mais jovem, por querer demonstrar que merece o coração da amada. Também faz projetos para o futuro ao lado da moça.

    2ª parte: escrita na prisão da ilha das Cobras. Traduzem a solidão de Dirceu, saudoso de Marília. Esta é considerada a parte de maior qualidade, pois, apesar das convenções ainda presentes, já não consegue sustentar o equilíbrio neoclássico. Há certo pessimismo confessional que já prenunciam o emocionalismo romântico, utilizando Marília como pretexto para falar de seu sofrimento, de si mesmo. Ações que são consideradas pré-romântica para alguns.
   
3ª parte: possivelmente escrita depois da prisão, a terceira parte fala de traições, desenganos, amores, que inclusive não são mais dedicados somente a Marília, que já não aparece com tanta frequência. Essa parte parece evidenciar uma tentativa (ou não) de superação por parte de Dirceu. Alguns críticos contestam a autenticidade dessa última parte.

Poesia épica

A poesia épica do Arcadismo brasileiro trouxe inovações para esta escola, que a diferenciou ainda mais do modelo europeu. Temas da história colonial em meio à descrição da paisagem tropical do país e a inserção do índio como herói, mesmo que ainda coadjuvante do homem branco. São as novas perspectivas que começam a delinear uma literatura nacionalista, a ser fundada durante o Romantismo.

Dentre os autores mais conhecidos estão:
Basílio da Gama e seu O Uraguai, Santa Rita Durão com Caramuru e o poema Vila Rica, de Cláudio Manuel da Costa.
Basílio da Gama
Foi um poeta luso-brasileiro do Brasil Colônia, filho de pai português e mãe brasileira.
Ficou órfão e foi para o Rio de Janeiro. Entrou em 1757 para a Companhia de Jesus. Dois anos depois, a ordem foi expulsa do Brasil e o poeta foi para Portugal e depois para Roma, onde foi admitido na Arcádia Romana. De volta a Lisboa, por suspeita de jansenismo, foi condenando ao degredo em Angola; salvou-o um epitalâmio que dedicou à filha do marquês de Pombal, que o indultou e protegeu.
Em 1769, publica o poema épico O Uraguai, que tem por assunto a guerra movida por Portugal aos índios das missões do Rio Grande do Sul (Sete Povos das Missões). Mais tarde foi nomeado oficial da Secretaria do Reino. Patrono da Academia Brasileira de Letras.
Utilizou o pseudônimo Termindo Sipílio.
O Uraguai
Santa Rita Durão
Caramuru
Caramuru (livro)
Caramuru, a mais importante obra de José de Santa Rita Durão, é um poema épico cujo tema é o Descobrimento da Bahia. O poema foi escrito em 1781, e é uma das obras que mais se destacam no Arcadismo brasileiro. A obra retrata vários fatos históricos marcantes do Brasil.

O ARCADISMO EM PORTUGAL

O ARCADISMO EM PORTUGAL

O arcadismo é uma escola literária que surgiu na Europa no século XVIII, também denominada de setecentismo ou neoclassicismo. O nome "arcadismo" é uma referência à Arcádia, região campestre do Peloponeso, na Grécia antiga, tida como ideal de inspiração poética. Os membros das arcádias, desenvolveram a poesia bucólica, um gênero derivado da vida no campo, onde estaria a verdadeira felicidade. Estes tinham o costume de se reunirem em academias, adotarem pseudônimos e serem tratados como pastores.

A principal característica desta escola é a exaltação da natureza e de tudo o que lhe diz respeito. Por essa razão muitos poetas do arcadismo adotaram pseudônimos de pastores gregos ou latinos. Caracteriza-se ainda pelo recurso a esquemas rítmicos mais graciosos.
Numa perspectiva mais ampla, expressa a crítica da burguesia aos abusos da nobreza e do clero praticados no Antigo Regime.rino e da multiplicação de estabelecimentos bancários, assenhoreando-se mesmo de uma parte da atividade agrícola. Paralelamente, a antiga Nobreza arruína-se, e o Clero, com as suas intermináveis polêmicas, traz o descrédito às questões teológicas. Em toda a Europa a influência do pensamento Iluminista burguês se alastra.
Esse período de renovação cultural que se caracteriza, em linhas gerais, pela valorização da Ciência e do espírito racionalista. O método experimental desenvolve-se; a análise crítica dos valores sociais e religiosos aguça-se, provocando polêmicas; há uma grande confiança na capacidade do homem em promover o progresso social (crença em que o bem-estar coletivo só pode advir da razão), e a tendência de libertar o universo cultural da influência da religião acentua-se cada vez mais.
Na França, em 1751, começam a ser publicados os volumes da Enciclopédia, que reunia pensadores como Voltaire, Diderot, D'Alembert, Montesquieu, Rousseau, e que pode ser considerada o símbolo da nova postura intelectual. A segunda metade do século é marcada pela Revolução Industrial na Grã-Bretanha, pelo aumento da urbanização de modo geral, e pela independência dos Estados Unidos (1776). Esta, por sua vez, irá inspirar movimentos de revolta em muitas colônias da América Latina como por exemplo a Inconfidência Mineira, no Brasil.
Adicionalmente os burgueses cultuam o mito do homem natural em oposição ao homem corrompido pela sociedade, conceito originalmente expresso por Jean-Jacques Rousseau, na figura do “bom selvagem”.

Contexto histórico-social
O século XVIII, também referido como “Século das Luzes”, representa uma fase de importantes transformações no campo da cultura europeia. Na Inglaterra e na França forma-se uma burguesia que passa a dominar economicamente o Estado, através de um intenso comércio ultram
Na Itália essa influência assumiu feição particular. Conhecida como arcadismo, inspirava-se na lendária região da Grécia antiga. Segundo a lenda, a Arcádia era dominada pelo deus Pã e habitada por pastores que, vivendo de modo simples e espontâneo, se divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando o amor e o prazer.
Giovan Crescimbeni em gravura feita por volta de 1790
Os italianos, procurando imitar a lenda grega, por inspiração de Giovan Maria Crescimbeni di Macerata criaram a "Arcádia" em 5 de outubro 1690 - uma academia literária que reunia os escritores com a finalidade de combater o Barroco e difundir os ideais neoclássicos. Para serem coerentes com certos princípios, como simplicidade e igualdade, os cultos literatos árcades usavam roupas e pseudônimos de pastores gregos e reuniam-se em parques e jardins para gozar a vida natural. Fez surgir no teatro a novidade do melodrama, com "Metastásio", e um novo tipo de tragédia, com "Mérope", de Maffei.
Em Portugal e no Brasil, a experiência neoclássica na literatura deu-se em torno dos modelos do arcadismo italiano, com a fundação de academias literárias, simulação pastoral, ambiente campestre, etc.
Características do arcadismo
O arcadismo constitui-se numa forma de literatura mais simples, opondo-se aos exageros e rebuscamentos do Barroco, expresso pela expressão latim são simples e comuns aos seres humanos, como o amor, a morte, o casamento, a solidão. As situações mais freqüentes apresentam um pastor abandonado pela amada, triste e queixoso. É a "aurea mediocritas" ("mediocridade áurea"), que simboliza a valorização das coisas cotidianas, focalizadas pela razão.
Os autores retornam aos modelos clássicos da Antiguidade greco-latina e aos renascentistas, razão pela qual o movimento é também conhecido como neoclássico. Os seus autores acreditavam que a Arte era uma cópia da natureza, refletida através da tradição clássica. Por isso a presença da mitologia pagã, além do recurso a frases latinas.
Inspirados na frase do escritor latino Horácio "fugere urbem" ("fugir da cidade"), e imbuídos da teoria do "bom selvagem" de Jean-Jacques Rousseau, os autores árcades voltam-se para a natureza em busca de uma vida simples, bucólica, pastoril, do "locus amoenus", do refúgio ameno em oposição aos centros urbanos dominados pelo Antigo Regime, pelo absolutismo monárquico.
Cumpre salientar que essa busca configurava apenas um estado de espírito, uma posição política e ideológica, uma vez que esses autores viviam nos centros urbanos e, burgueses que eram, ali mantinham os seus interesses econômicos. Por isso justifica falar-se em "fingimento poético" no arcadismo fato que transparece no uso dos pseudônimos pastoris.
Além disso, diante da efemeridade da vida, defendem o "carpe diem", pelo qual o pastor, ciente da brevidade do tempo, convida a sua pastora a gozar o momento presente.
Quanto à forma, usavam muitas vezes sonetos com versos decassílabos, rima optativa e a tradição da poesia épica.

Outras características importantes são:
    valorização da vida no campo (bucolismo)
 -   Fugere urbem (critica a vida nos centros urbanos)
 -  objetividade
 -  idealização da mulher amada
 -  inutilia truncat (cortar o inútil)
 -  locus amoenus (lugar ameno)
 -  convencionalismo amoroso
 -  aurea mediocritas (mediocridade áurea ou ouro medíocre)
 -  linguagem simples
 -  uso de pseudônimos com frequência
 -  pastoralismo

O arcadismo em Portugal

O clima de renovação atingiu fortemente também Portugal que, no começo do século XVIII, passava pelo período final de sua reestruturação econômica, política e cultural.
Durante o reinado de João V de Portugal (1707-1750) percebe-se, no país, uma certa abertura intelectual e política, como por exemplo a licença concedida à Congregação do Oratório para ministrar ensino, até então privilégio da Companhia de Jesus.
Em 1746, Luís António Verney, inspirado nas ideias dos racionalistas franceses, publica as cartas que compõem o seu "Verdadeiro Método de Estudar", obra em que critica o ensino tradicional e propõe reformas que visam a colocar a cultura portuguesa a par com a do resto da Europa.
Caberá, entretanto, ao marquês de Pombal, ministro de José I de Portugal (1750-1777), concretizar essas aspirações. Agindo com plena autonomia de poderes, o despotismo esclarecido de Pombal operou verdadeira transformação nos rumos da cultura portuguesa expulsou os jesuítas em 1759, o que enfraqueceu bastante a influência religiosa no campo cultural;    incentivou os estudos científico  reformou o ensino e,    apesar de manter um sistema de censura, afrouxou muito a repressão que era exercida pelo Santo Ofício (a Inquisição).
Em Portugal, o arcadismo iniciou-se oficialmente em 1756, com a fundação da “Arcádia Lusitana”, entidade em que se reuniam intelectuais e artistas para discutirem Arte.
A “Arcádia Lusitana” tinha por lema a frase latina "Inutilia truncat" ("acabe-se com as inutilidades"), escrito por António Dinis da Cruz e Silva no capítulo II do Estatuto da Arcádia, que vai caracterizar todo o movimento no país. Visavam com isto erradicar os exageros, o rebuscamento, e a extravagância preconizados pelo Barroco, retornando a uma literatura simples. No capítulo III é definido a divisa do lírio, alusivo a Virgem Nossa Senhora, tomada como protetora da instituição com o título de Conceição. Nesse primeiro momento, não havia o preceito contra a religião, o que mudaria na última década do século XVIII com a Nova Arcádia (1790-1794), com a participação de Bocage e Nicolau Tolentino, dentre outros 
Autores
    Manuel Maria Barbosa du Bocage
    António Dinis da Cruz e Silva
    Correia Garção
    Marquesa de Alorna
    Francisco José Freire, ou Cândido Lusitano

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Romantismo no Brasil

O ROMANTISMO NO BRASIL
O Romantismo no Brasil teve como marco a publicação do livro de poemas de Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882), intitulado "Suspiros poéticos e saudades", em 1836. Esse período é caracterizado por manifestações culturais, artísticas e literárias iniciadas na Europa no final do século XVIII.
Características do Romantismo
As principais caraterísticas da literatura romântica no Brasil são:
   * Rompimento com a tradição clássica
   * Amor platônico, idealismo
   *Idealização da mulher
   * Subjetivismo
   *Indianismo (tema do índio)
   * Nacionalismo e ufanismo
   *Culto à natureza
   *Sentimentalismo exacerbado
   * Egocentrismo
   *Maior liberdade formal
   * Religiosidade
    *Evasão e escapismo

Gerações Românticas
O Romantismo é dividido em três fases, a saber:
    1ª fase: 
As características da primeira geração romântica é o Nacionalismo e o Indianismo. Aqui os escritores exploram temas como: natureza, sentimentalismo, religiosidade, ufanismo, nacionalismo. Nesse sentido, o indianismo, expressa uma das buscas aos temas nacionais, visto que o Brasil havia conquistado sua independência pouco antes, em 1822. Interessante notar que nessa fase, os autores buscam um retorno ao passado histórico bem como ao medievalismo. No Brasil, destacamos os autores: Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães, Teixeira e Souza e Araújo Porto Alegre, José de Alencar.
    2ª fase:
Conhecida como a geração do “Mal do Século” ou “Ultrarromântica”, a segunda geração romântica foi profundamente influenciada pela poesia do inglês George Gordon Byron, (1788-1824) e, por isso, muitas vezes chamada de geração “Byroniana”. Marcada por aspectos negativos, a poesia desse período romântico é permeada dos temas: egocentrismo, negativismo, pessimismo, dúvida, desilusão, boêmia, exaltação da morte e fuga da realidade. No Brasil, os principais escritores dessa geração foram: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire.
    3ª fase:
Chamada de “Geração Condoreira”, a terceira geração romântica é caracterizada pela poesia libertária e social. Com isso, o período está associado ao condor, águia da cordilheira dos Andes, com o intuito de revelar sua mais importante característica: a liberdade. Vale lembrar que essa geração sofreu muita influencia do escritor francês Victor-Marie Hugo (1802-1885), daí ser conhecida também como geração “Hugoana”. No Brasil, seus principais representantes foram: Castro Alves, Tobias Barreto e Sousândrade.
Curiosidade
    A prosa romântica brasileira foi marcada pelos estilos dos textos, não por gerações, como aconteceu com a poesia. Alguns estilos: urbano, sertanejo, regionalista, histórico, indianista.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Romantismo em Portugal




 ROMANTISMO EM PORTUGAL
Durante o século XIX, Portugal participou de grandes transformações políticas europeias. Nesse período as primeiras manifestações pré-românticas aconteceram, mas o Romantismo só teve início no final dos anos 20.
As novas ideologias políticas, econômicas e sociais, vieram intervir na sociedade do século XIII. A influência das revoluções francesa e industrial e do pensamento liberal se deu em todos os campos, e a própria literatura mostra essas influências. A liberdade sobrepuja as regras, a razão predomina sobre a emoção. O romantismo instaura-se um novo modo de expressão em toda a Europa e, consequentemente em Portugal.
O Romantismo, designa uma tendência geral da vida e da arte, um certo momento delimitado. O comportamento romântico caracteriza-se pelo sonho, pelo devaneio, por uma atitude emotiva, subjetiva, diante das coisas. Afinal, o pensamento romântico vai muito além do que podemos ver; procura desvendar o que estamos sentindo. O Romantismo não conta, faz de conta, idealiza um universo melhor, defendendo a ideia da expressão do eu-lírico, onde prevalece o tom melancólico, falando de solidão e nostalgia.
Enfim, o ideal romântico, tenta colocar o universo que presenciamos, de forma subjetiva, sendo que a expressão do sentimentalismo não precisa obedecer a nenhuma regra, antes adorada pelos clássicos.
O introdutor do Romantismo em Portugal é Almeida Garrett, essa nova escola dominará até a década de 60.Conforme se sucederam as gerações dos autores o Romantismo foi evoluindo.
Isso se deu em três momentos:
O primeiro momento do Romantismo
Como toda tendência nova, o Romantismo não veio implantar-se totalmente nos primeiros momentos em Portugal. Inicialmente, buscava-se gradativamente, apagar os modelos clássicos que ainda permeavam o meio sócioeconômico. Os escritores dessa época, eram românticos em espírito, ideal e ação política e literária, mas ainda clássicos em muitos aspectos.

Almeida Garrett

Almeida Garrett, cultivou a oratória parlamentar, o pensamento pedagógico e doutrinário, o jornalismo, a poesia, a prosa de ficção e o teatro, o qual entrou em contato com o de Shakespeare quando em exílio na Inglaterra. Teve uma vida sentimental bastante atribulada em que se sobressai o seu romance adúltero com a viscondessa da Luz, a qual inspirou seus melhores poemas.
Na poesia, assimilou os moldes clássicos e morreu sem tornar-se romântico autêntico, pois carecia do egocentrismo tão almejado pelos românticos, deixando sua fantasia no teatro e na prosa de ficção. Escreveu Camões (1825), Dona Branca (1826), Folhas Caídas (1853), Viagens na minha terra (1846), dentre outras.

Alexandre Herculano

Herculano, exilou-se na Inglaterra e na França, criando polêmica com o clero, por participar da lutas liberais. Junto com Garrett, foi um intelectual que atuou bastante nos programas de reformas da vida portuguesa.
Na ficção de Alexandre Herculano, prevalece o caráter histórico dos enredos, voltados para a Idade Média, enfocando as origens de Portugal como nação. Além disso, ocorrem muitos temas de caráter religioso. Quanto à sua obra não-ficcional, os críticos consideram que renovou a historiografia, uma vez que se baseia não mais em ações individuais, mas no conflito de classes sociais para explicar a dinâmica da história.
Sua obras principais são: A harpa do crente (1838), Eurico, o presbítero (1844), dentre outras.

Castilho

Castilho, tem como principal papel traduzir poetas clássicos. Sua passagem pelo Romantismo é discreta, mesmo que tenha sido o provocador da Questão Coimbrã.
A história de Castilho é a dum grande mal-entendido: graças à cegueira, que lhe dava um falso brilho de gênio à Milton, mais do que à sua poesia, alcançou injustamente ser venerado como mestre pelos românticos menores. Não obstante válida historicamente, sua poesia caiu em compreensível esquecimento.

O segundo momento do Romantismo

Neste momento, desfazem-se os enlaces arcádicos que ainda envolviam os escritores da época. Aqui, notamos com plena facilidade o domínio da estética e da ideologia romântica. Os escritores tomam atitudes extremas, transformando-se em românticos descabelados, caindo fatalmente no exagero, tendenciando temas soturnos e fúnebres, tudo expresso numa linguagem fácil e comunicativa.

Soares de Passos

Soares de Passos constitui a encarnação perfeita do "mal-do-século". Vivendo na própria carne os devaneios de que se nutria a fértil imaginação de tuberculoso, sua vida e sua obra espelham claramente o prazer romântico do escapismo das responsabilidades sociais da época, acabando por cair em extremo pessimismo, um incrível desalento derrotista
Obra: Poesias (1855)

Camilo Castelo Branco

Casou-se com uma jovem de 15 anos, a quem abandonou com uma filha; em seguida raptou outra moça, sua prima, e com ela passou a viver. Acusado de bigamia, foi preso. Sua primeira esposa morreu e, logo em seguida, a filha. Abandonou a prima e viveu amores passageiros com outra jovem e com uma freira. Uma crise religiosa levou-o a ingressar num seminário, do qual desistiu.
Conheceu Ana Plácido, senhora casada que seria o grande amor de sua vida. Ocorre sua primeira tentativa de suicidar-se, diante da impossibilidade de viver com ela. Mas, finalmente passaram a viver juntos o que lhes custou um processo por adultério. Ambos foram presos. Na prisão, Camilo escreveu Amor de Perdição. Absolvidos e morto o marido de Ana, se casaram. Alguns anos depois da morte de Ana, Camilo, vencido pela cegueira, acaba por suicidar-se.
Suas obras principais: Amor de salvação (1864), A queda dum anjo (1866), dentre outras.

O terceiro Momento do Romantismo

Acontece aqui, um tardio florescimento literário que corresponde ao terceiro momento do Romantismo, em fusão dos remanescentes do Ultra-Romantismo. Esse período é marcado pela presença de poetas, como João de Deus, Tomás Ribeiro, Bulhão Pato, Xavier de Novais, Pinheiro Chagas e Júlio Dinis, que purificam até o extremo as características românticas.
Tomás Ribeiro mistura a influência de Castilho e de Victor Hugo, o que explica o caráter entre passadista e progressista da sua poesia.
Bulhão Pato começa ultra-romântico e evolui, através duma sátira às vezes cortante, para atitudes realistas e parnasianas.
Faustino Xavier de Novais dirigiu uma folha literária. Satirizou o Ultra-Romantismo.
Manuel Pinheiro Chagas cultivou a poesia de Castilho, que motivou a Questão Coimbrã; a historiografia e a crítica literária.

João de Deus

João de Deus foi apenas poesia. Lírico de incomum vibração interior, pôs-se à margem da falsa notoriedade e dos ruídos da vida literária e manteve-se fiel até o fim a um desígnio estético e humano que lhe transcendia a vontade e a vaidade. Contemplativo por excelência, sua poesia é a dum "exilado" na terra a mirar coisas vagas e por vezes a se deixar estimular concretamente.

Júlio Dinis

Os poemas de Júlio Dinis armam-se sobre uma tese moral e teleológica, na medida em que pressupõem uma melhoria, embora remota, para a espécie humana, frontalmente contrária à desesperação e ao amoralismo cético dos ultra-românticos, numa linguagem coerente, lírica e de imediata comunicabilidade. Conduz suas histórias, sempre a um epílogo feliz, não considerando a heroína como "mulher demônio", mas sim como "mulher anjo".
Sua principal obra: As pupilas do senhor reitor

Características
O Romantismo foi encarado como uma nova maneira de se expressar, enfrentar os problemas da vida e do pensamento.
Esta escola, repudiava os clássicos, opondo-se às regras e modelos, procurando a total liberdade de criação, além de defender a "impureza" dos gêneros literários. Com o domínio burguês, ocorre a profissionalização do escritor, que recebe uma remuneração para produzir a obra, enquanto o público paga para consumi-la.
O escritor romântico projetava-se para dentro de si, tendo como fonte o eu-lírico, do qual fluía um diverso conteúdo sentimentalista e, muitas vezes, melancólico da vida, do amor e, às vezes, exageradamente, da própria morte. A introversão era característica essencialmente romântica.
A natureza, assim como a mulher são importantes pontos desse momento. O homem, idealizava a mulher como uma deusa, coisa divina e, com isso, retornava ao passado, no trovadorismo, onde as "madames" eram tão sonhadas e desejadas, mesmo que fossem inatingíveis.
Ao procurar a mulher de seus sonhos e, então, frustrar-se por não encontrá-la ou, muitas vezes, por encontrá-la e perdê-la, o romântico entrava em constante devaneio. Para amenizar a situação, ao escrever despojava todos os seus anseios, procurando fugir da realidade, usando do escapismo, onde, não raramente, tinha a natureza como confidente. Outra forma de escapismo utilizada, era o escapismo pela obscuridade, onde buscavam o bem-estar nos ambientes fúnebres e obscuros.
Essas frustrações tidas por amores ou simples desilusões com a vida, provocaram muitos suicídios. Daí a grande frequência dos temas de morte nos poemas românticos, o que caracteriza o mal-do-século.
O Romantismo, não passou de uma forma de repudiar as regras que contornavam e preenchiam o campo literário da época que, juntamente com a ideologia vigente, traziam um enorme descontentamento. Este momento em que a literatura presenciava, talvez fosse, o marco principal para a definitiva liberdade de expressão do pensamento, que viria se firma, tardiamente com o Modernismo.

By Mari Kummer
Professora em Língua Portuguesa e Literatura
 


sábado, 13 de dezembro de 2014

Emprego dos pronomes relativos


Emprego dos pronomes relativos
1. Os pronomes relativos virão precedidos de preposição se a regência assim determinar.
EX: Este é o pintor a cuja obra me refiro.
Este é o pintor de cuja obra gosto.


2. O pronome relativo quem é empregado com referência a pessoas: 
EX: Não conheço o político de quem você falou.

3. O relativo quem pode aparecer sem antecedente claro, sendo classificado como pronome relativo indefinido.
EX: Quem faltou foi advertido.

4. Quando possuir antecedente, o pronome relativo quem virá precedido de preposição.
EX: Marcelo era o homem a quem ela amava.

5. O pronome relativo que é o de mais largo emprego, chamado de relativo universal, pode ser empregado com referência a pessoas ou coisas, no singular ou no plural.
EX:
Não conheço o rapaz que saiu.
Gostei muito do vestido que comprei.
Eis os ingredientes de que necessitamos.


6. O pronome relativo que pode ter por antecedente o demonstrativo o, a, os, as
.
EX: Falo o que sinto. (o pronome o equivale a aquilo)

7. Quando precedido de preposição monossilábica, emprega-se o pronome relativo que. Com preposições de mais de uma sílaba, usa-se o relativo o qual (e flexões).
EX:
Aquele é o livro com que trabalho.
Aquela é a senhora para a qual trabalho.


8. O pronome relativo cujo (e flexões) é relativo possessivo equivale a do qual, de que, de quem. Deve concordar com a coisa possuída.
EX: Apresentaram provas em cuja veracidade eu creio.

9. O pronome relativo quanto, quantos e quantas são pronomes relativos quando seguem os pronomes indefinidos tudo, todos ou todas.

EX: Comprou tudo quanto viu.

10. O relativo onde deve ser usado para indicar lugar e tem sentido aproximado de em que, no qual. EX:
Este é o país onde habito.

a) onde é empregado com verbos que não dão idéia de movimento. Pode ser usado sem antecedente.

EX: Sempre morei no país onde nasci.

b) aonde é empregado com verbos que dão idéia de movimento e equivale a para onde, sendo resultado da combinação da preposição a + onde.

EX> Voltei àquele lugar aonde minha mãe me levava quando criança.

O TROVADORISMO

trovadorismo surgiu provavelmente entre os séculos X e XI e floresceu na península Ibérica do século XII ao século XIV.
Os trovadores eram compositores de cantigas (amorosas, religiosas ou satíricas) e eram muito respeitados na Idade Média, porque deles provinha a música que servia para acompanhar as festividades ou as reuniões solenes das cortes, assim como os banquetes ou as núpcias. Do trovadorismo português poucas notações musicais (partituras) sobreviveram até nós: o que temos na maioria são apenas as letras das cantigas coletadas em grandes livros manuscritos e ilustrados, chamados Cancioneiros. Chegaram até nós apenas três cancioneiros: Cancioneiro da AjudaCancioneiro da Vaticana e Cancioneiro da Biblioteca Nacional. São aproximadamente 1680 cantigas de 153 trovadores.
A função dos trovadores nas cortes medievais era compor músicas como estampidos, bailias e cantigas para as cerimônias, festividades, núpcias e banquetes.
Executar a música (tocar e cantar) era função de grupos de artistas liderados por menestréissegréis(músicos) e jograis (cantores), compostos por homens e mulheres pagos para esse trabalho.
Trovadores tocando instrumentos musicais
Dois trovadores executando seus instrumentos musicais: o arrabil (à esquerda) e o alaúde.
Os grupos musicais podiam ser fixos numa corte ou itinerantes (viajando de uma corte a outra). Ocorria, bem menos frequentemente, que o próprio trovador tomasse parte nas funções como músico ou cantor.
Para ter acesso livre à vida na corte, o trovador também precisava de ser nobre, em geral um nobre de baixa linhagem — filho bastardo ou vassalo empobrecido ou desertor de lutas e batalhas.
Com o transcorrer da Idade Média, foram surgindo trovadores de altas linhagens da nobreza — como os reis D. Sancho (século XII), D. Afonso X (século XIII) e D. Dinis (séculos XIII-XIV) —, o que prova o prestígio e a influência da arte trovadoresca nas cortes ibéricas.
Prova também desse prestígio é o fato de que muitos músicos foram ganhando espaço nas cortes como trovadores — caso do jogral João Zorro (século XIII) e do segrel Martim Codax (séculos XIII-XIV).
Eram três os tipos de cantigas, ou cantares:
  • Cantigas lírico-amorosas;
  • Cantigas satíricas;
  • Cantigas religiosas.

CANTIGAS LÍRICO-AMOROSAS 

Eram de dois tipos, bem distintos: de amor e de amigo. 

CANTIGAS DE AMOR

Refletiam sentimentos de um eu-lírico masculino, que reclama de sua coita (sofrimento por um amor rejeitado). A mulher que o faz sofrer é retratada sempre como superior, ingrata, cruel até, impiedosa. Mas, mesmo assim, o tratamento que dispensa a ela é respeitoso, na justa medida do amor cortês: não divulga o nome da amada, nem se excede na exposição emocional. Essa amada é chamada apenas de "senhor" ou "dona" - no galego-português, língua falada na época, não havia ainda a distinção de gênero em senhor/senhora; a pronúncia, aliás, era a mesma para o masculino e para o feminino ("o senhor", "a senhor").
As cantigas de amor têm como modelo as cantigas provençais. As cortes de Provença, na França, eram um rico posto de passagem de caravanas de comércio e de peregrinação religiosa a Roma ou à Terra Santa. A moda trovadoresca parece ter sido criada em Provença e difundida a outras partes pelos viajantes.
Nos cantares de amor, por conta do sentimento platônico do compositor e do traçado idealizante da mulher amada, percebemos uma linguagem mais refinada, com influências provençais no vocabulário. Todavia, essa linguagem não se distinguia muito do falar geral galego-português. Na Idade Média, a linguagem da corte e a do povo eram muito próximas: a oralidade imperava mesmo entre os nobres. Não nos esqueçamos de que a leitura e a escrita eram restritas em geral à nobreza real e a altos cargos religiosos.
A situação de vítima do amor em que se coloca o trovador e o respeito servil à mulher amada refletem o contexto das relações suserano-vassalo próprias das cortes medievais.
É o que chamamos de vassalagem amorosa.
A dualidade com que é apresentada a figura feminina nas cantigas de amor reflete uma dualidade típica da época. Por um lado, a mulher é vista como um ser estranho, cruel, próximo do sobrenatural, do demoníaco — a bruxa: afinal, ela expele sangue, dá à luz, muda de humor facilmente... Por outro lado, a mulher traz parentesco com o divino: sua figura maternal, sensível, aproxima-se da imagem de Nossa Senhora. Essa imagem santa da mulher foi disseminada pela Igreja Católica e assimilada pelos códigos do amor cortês.
Temo-nos referido à figura feminina como "amada", mas não devemos esquecer que um trovador jamais empregaria essa palavra. Na época, "amada" era a pessoa com quem já se tinha travado um contato mais íntimo (a amante), fato que o trovador não podia de modo algum mencionar, segundo os códigos do amor cortês.
Se eu pudesse desamar
a quen me sempre desamou,
e pudess'algum mal buscar
a quen me sempre mal buscou!
Assi me vingaria eu,
se eu pudesse coita dar
a quen me sempre coita deu.

Mais non poss'eu enganar
meu coraçon, que m'enganou,
por quanto me fez desejar
a quen me nunca desejou.
E por esto non dórmio eu,
se eu pudesse coita dar
a quen me sempre coita deu.
Pero da Ponte, Portugal, (século XIII)
Vocabulário:    
coita: sofrimento de amor
desemparar: desamparar
dórmio: durmo

CANTIGAS DE AMIGO

Expondo o sentimento amoroso de um eu-lírico feminino, as cantigas de amigo mostram uma moça do povo que revela suas saudades do amado ausente. Aqui, emprega-se a palavra "amado" com frequência, pois a intimidade amorosa existe de fato, não há idealizações. O que ocorre é que o amado está distante — a trabalho ou em luta ou no mar. Muitas vezes, esse amado era um homem da corte, que buscava experiência sexual com moças menos "difíceis" que as vigiadas donzelas da nobreza. Não devemos estranhar o termo "amigo". Na época, ele era sinônimo de "amante" ou "namorado", quando aplicado à relação entre homem e mulher. Resquício desse significado temos hoje na expressão popular "amigados", que se refere a um casal que vive junto sem confirmação legal ou religiosa.
Numa linguagem bem simples e repetitiva, com elementos próprios do universo popular ibérico, com versos curtos e refrãos fáceis de memorizar, a moça saudosa conversa com a mãe, com as irmãs, com as amigas, com o mar, com os seres da natureza, com Deus, e vai com eles compartilhando seus anseios de rever o namorado. É de se notar a ausência de interlocutores masculinos — o que revela a itinerância dos homens do povo, na época, por conta das obrigações militares, de trabalho em outras terras ou no mar.
Embora o eu-lírico seja feminino, o autor das cantigas de amigo é o trovador. Em geral, quem cantava essas cantigas eram homens mesmo, e também as jogralesas (esposas dos jograis) e as soldadeiras (cantoras-dançarinas). Não há notícia de que tenha havido trovadoras em Portugal, como houve em Provença (a Condessa de Die, que viveu no século XII).
Ondas do mar de Vigo
Se vistes meu amigo
E ai Deus se verra cedo.

Ondas do mar levado
Se vistes meu amado
E ai Deus se verra cedo.

Se vistes meu amigo
O por que eu sospiro
E ai Deus se verra cedo.

Se vistes meu amado
O por que ei gran cuidado
E ai Deus se verra cedo.
Martim Codax (século XIII-XVI)
Vocabulário:
Vigo: cidade litorânea da Galícia, destino de peregrinações religiosas
verrá: voltará, virá
levado: agitado
o por que: aquele por quem
ei cuidado: por quem tenho carinho, atenção           

CANTIGAS SATÍRICAS

Eram cantigas para situações mais descontraídas. Propunham ridicularizar os costumes sociais e as pessoas mal-queridas das cortes a que o trovador servia. Eram de maldizer e de escárnio.

CANTIGAS DE MALDIZER

Faziam crítica direta, muitas vezes mencionando o nome da pessoa criticada ou alguma característica muito evidente e conhecida dela. Por vezes, grosseiras, essas cantigas empregavam até palavrões e insultos.           
Don Foão, que eu sei
que á preço de livão,
vedes que fez ena guerra
(d'aquesto soõ certão):
sol que viu os genetes,
come boi que fer tarvão,
sacudiu-s'e revolveu-se,
alçou rafe foi sa via
a Portugal.

Don Foão, que eu sei
que á preço de ligeiro,
vedes que fez ena guerra
(d'aquesto son verdadeiro):
sol que viu os genetes,
come bezerro tenreiro,
sacudiu-s'e revolveu-se,
alçou rab'e foisa via
a Portugal.

Don Foão, que eu sei
que á prez de liveldade,
vedes que fez ena guerra
(sabede-o por verdade):
sol que viu os genetes,
come can que sal de grade,
sacudiu-s'e revolveu-se,
alçou rab'e foi sa via
a Portugal.
D. Afonso Mendes de Besteiros (século XIII)
Vocabulário:
Foão: fulano (embora não mencione o nome, os ouvintes certamente sabiam de quem se tratava a cantiga, por conta do gesto de covardia relatada nela; trata-se de João Pires de Vasconcelos, que ficou famoso na corte por fugir do campo de batalha, na guerra de Granada)
preço de livão: reputação de pessoa leviana
soõ certão: estou certo
sol: assim que
genetes: ginetes, cavalos
come boi que fer tarvão: como boi que vespa ferra (como boi ferrado por vespa)
alçou rab'e foi sa via: levantou o rabo e foi embora
tenreiro: novo (apelido de João Pires de Vasconcelos)
prez de liveldade: mérito de ligeireza
cam que sai de grade: cão que sai da gaiola


CANTIGAS DE ESCÁRNIO

Faziam crítica indireta, irônica, sugestiva. Nem se revelava o nome do criticado, nem se deixava clara a crítica. Como eram criadas para provocar suspense entre os ouvintes, essas cantigas prendiam-se bastante a situações cotidianas específicas de uma corte, o que dificulta para os leitores atuais detectar qual a real intenção do escárnio.
Veja uma cantiga de Pero Garcia Burgalês (século XIII) em uma linguagem mais próxima de nós:
Embora não me queirais, donzela,
já que vos amo, vou dar-vos um conselho;
como vós não sabeis vos entoucar,
fazei quanto vos direi:
buscai quem vos entouque melhor
e vos corrija, pelo meu amor,
as formas do corpo e o cós que tendes.
E se isso fizerdes, tereis,
assim me valha Nosso Senhor,
beleza e um corpo elegante, e sereis
muito formosa e de boa cor;
se cada vez que essa touca torcer
e cada vez que tiverdes quem vos corrija,
então serás muito bela.
Ai, minha senhora, por Deus em que credes,
já que a outro ser não ouso pedir por vós;
como sempre trazeis a touca mal posta,
crede no que vou aconselhar:
em vez de alguém a corrigir por vós,
que essa pessoa corrija as formas de vosso corpo
e a maneira como falais, e se não, nem faleis.
Observe que na cantiga acima o trovador chama a atenção de uma donzela sobre o mau-gosto que ela tem em se "entoucar", que quer dizer "pentear-se". Porém, "entoucar" também podia significar "colocar touca [de dormir]". Ficamos, então, em dúvida: será que o trovador não estaria satirizando uma mulher—ironicamente chamada de "donzela"
— com a qual ele dormiu? Veja a insistência em relação aos dotes físicos dela, que precisam ser "corrigidos", melhorados, assim como sua fala
— ao final, ele pede que a moça corrija a fala ou então que se cale!

CANTIGAS RELIGIOSAS

As cantigas de temática religiosa eram de cunho devocional (exaltação à imagem de um santo) ou hagiografico (narrativas dos feitos milagrosos de um santo). O alvo mais freqüente dos cantares trovadorescos religiosos era Santa Maria, a mãe de Cristo.
Fonte: MOISES, Massaud.A Literatura Portuguesa.30ª ed., São Paulo: Cultrix, 1999.
By MariKummer