Durante o século XIX, Portugal participou de
grandes transformações políticas europeias. Nesse período as primeiras
manifestações pré-românticas aconteceram, mas o Romantismo só teve início no
final dos anos 20.
As novas
ideologias políticas, econômicas e sociais, vieram intervir na sociedade do
século XIII. A influência das revoluções francesa e industrial e do pensamento
liberal se deu em todos os campos, e a própria literatura mostra essas
influências. A liberdade sobrepuja as regras, a razão predomina sobre a emoção.
O romantismo instaura-se um novo modo de expressão em toda a Europa e,
consequentemente em Portugal.
O
Romantismo, designa uma tendência geral da vida e da arte, um certo momento
delimitado. O comportamento romântico caracteriza-se pelo sonho, pelo devaneio,
por uma atitude emotiva, subjetiva, diante das coisas. Afinal, o pensamento
romântico vai muito além do que podemos ver; procura desvendar o que estamos
sentindo. O Romantismo não conta, faz de conta, idealiza um universo melhor,
defendendo a ideia da expressão do eu-lírico, onde prevalece o tom melancólico,
falando de solidão e nostalgia.
Enfim, o
ideal romântico, tenta colocar o universo que presenciamos, de forma subjetiva,
sendo que a expressão do sentimentalismo não precisa obedecer a nenhuma regra,
antes adorada pelos clássicos.
O introdutor do Romantismo em
Portugal é Almeida Garrett, essa nova escola dominará até a década de 60.Conforme se sucederam as gerações dos autores o Romantismo foi evoluindo.
Isso se deu em três momentos:
O primeiro momento do RomantismoIsso se deu em três momentos:
Como toda tendência nova, o Romantismo não veio implantar-se totalmente nos
primeiros momentos em Portugal. Inicialmente, buscava-se gradativamente, apagar
os modelos clássicos que ainda permeavam o meio sócioeconômico. Os escritores
dessa época, eram românticos em espírito, ideal e ação política e literária,
mas ainda clássicos em muitos aspectos.
Almeida Garrett
Almeida Garrett, cultivou a oratória parlamentar, o pensamento pedagógico e
doutrinário, o jornalismo, a poesia, a prosa de ficção e o teatro, o qual
entrou em contato com o de Shakespeare quando em exílio na Inglaterra. Teve uma
vida sentimental bastante atribulada em que se sobressai o seu romance adúltero
com a viscondessa da Luz, a qual inspirou seus melhores poemas.
Na poesia, assimilou os moldes clássicos e morreu sem tornar-se romântico
autêntico, pois carecia do egocentrismo tão almejado pelos românticos, deixando
sua fantasia no teatro e na prosa de ficção. Escreveu Camões (1825), Dona
Branca (1826), Folhas Caídas (1853), Viagens na minha
terra (1846), dentre outras.
Alexandre Herculano
Herculano, exilou-se na Inglaterra e na França, criando polêmica com o
clero, por participar da lutas liberais. Junto com Garrett, foi um intelectual
que atuou bastante nos programas de reformas da vida portuguesa.
Na ficção de Alexandre
Herculano, prevalece o caráter histórico dos enredos, voltados para a Idade
Média, enfocando as origens de Portugal como nação. Além disso, ocorrem muitos
temas de caráter religioso. Quanto à sua obra não-ficcional, os críticos
consideram que renovou a historiografia, uma vez que se baseia não mais em
ações individuais, mas no conflito de classes sociais para explicar a dinâmica
da história.
Sua obras principais são: A harpa do crente (1838), Eurico, o presbítero
(1844), dentre outras.
Castilho
Castilho, tem como principal papel traduzir poetas clássicos. Sua passagem
pelo Romantismo é discreta, mesmo que tenha sido o provocador da Questão
Coimbrã.
A história de Castilho é a dum grande
mal-entendido: graças à cegueira, que lhe dava um falso brilho de gênio à
Milton, mais do que à sua poesia, alcançou injustamente ser venerado como
mestre pelos românticos menores. Não obstante válida historicamente, sua poesia
caiu em compreensível esquecimento.
O segundo momento do Romantismo
Neste momento, desfazem-se os enlaces arcádicos que ainda envolviam os
escritores da época. Aqui, notamos com plena facilidade o domínio da estética e
da ideologia romântica. Os escritores tomam atitudes extremas, transformando-se
em românticos descabelados, caindo fatalmente no exagero, tendenciando temas
soturnos e fúnebres, tudo expresso numa linguagem fácil e comunicativa.
Soares de Passos
Soares de Passos constitui a encarnação perfeita do
"mal-do-século". Vivendo na própria carne os devaneios de que se
nutria a fértil imaginação de tuberculoso, sua vida e sua obra espelham
claramente o prazer romântico do escapismo das responsabilidades sociais da
época, acabando por cair em extremo pessimismo, um incrível desalento
derrotista
Obra: Poesias (1855)
Camilo Castelo Branco
Casou-se com uma jovem de 15 anos, a quem abandonou com uma filha; em
seguida raptou outra moça, sua prima, e com ela passou a viver. Acusado de
bigamia, foi preso. Sua primeira esposa morreu e, logo em seguida, a filha.
Abandonou a prima e viveu amores passageiros com outra jovem e com uma freira.
Uma crise religiosa levou-o a ingressar num seminário, do qual desistiu.
Conheceu Ana Plácido, senhora casada que seria o grande amor de sua vida.
Ocorre sua primeira tentativa de suicidar-se, diante da impossibilidade de
viver com ela. Mas, finalmente passaram a viver juntos o que lhes custou um
processo por adultério. Ambos foram presos. Na prisão, Camilo escreveu Amor de
Perdição. Absolvidos e morto o marido de Ana, se casaram. Alguns anos depois da
morte de Ana, Camilo, vencido pela cegueira, acaba por suicidar-se.
Suas obras principais: Amor de salvação (1864),
A queda dum anjo (1866), dentre outras.
O terceiro Momento do Romantismo
Acontece aqui, um tardio florescimento literário que corresponde ao terceiro
momento do Romantismo, em fusão dos remanescentes do Ultra-Romantismo. Esse
período é marcado pela presença de poetas, como João de Deus, Tomás Ribeiro,
Bulhão Pato, Xavier de Novais, Pinheiro Chagas e Júlio Dinis, que purificam até
o extremo as características românticas.
Tomás Ribeiro mistura a influência de Castilho e de Victor Hugo, o que
explica o caráter entre passadista e progressista da sua poesia.
Bulhão Pato começa ultra-romântico e evolui, através duma sátira às vezes
cortante, para atitudes realistas e parnasianas.
Faustino Xavier de Novais dirigiu uma folha literária. Satirizou o
Ultra-Romantismo.
Manuel Pinheiro Chagas cultivou a poesia de Castilho, que motivou a Questão
Coimbrã; a historiografia e a crítica literária.
João de Deus
João de Deus foi apenas poesia. Lírico de incomum vibração interior, pôs-se
à margem da falsa notoriedade e dos ruídos da vida literária e manteve-se fiel
até o fim a um desígnio estético e humano que lhe transcendia a vontade e a
vaidade. Contemplativo por excelência, sua poesia é a dum "exilado"
na terra a mirar coisas vagas e por vezes a se deixar estimular concretamente.
Júlio Dinis
Os poemas de Júlio Dinis armam-se sobre uma tese
moral e teleológica, na medida em que pressupõem uma melhoria, embora remota,
para a espécie humana, frontalmente contrária à desesperação e ao amoralismo
cético dos ultra-românticos, numa linguagem coerente, lírica e de imediata
comunicabilidade. Conduz suas histórias, sempre a um epílogo feliz, não
considerando a heroína como "mulher demônio", mas sim como
"mulher anjo".
Sua principal obra: As
pupilas do senhor reitor
Características
O
Romantismo foi encarado como uma nova maneira de se expressar, enfrentar os
problemas da vida e do pensamento.
Esta
escola, repudiava os clássicos, opondo-se às regras e modelos, procurando a
total liberdade de criação, além de defender a "impureza" dos gêneros
literários. Com o domínio burguês, ocorre a profissionalização do escritor, que
recebe uma remuneração para produzir a obra, enquanto o público paga para
consumi-la.
O escritor romântico projetava-se para dentro de
si, tendo como fonte o eu-lírico, do qual fluía um diverso conteúdo sentimentalista
e, muitas vezes, melancólico da vida, do amor e, às vezes, exageradamente, da
própria morte. A introversão era característica essencialmente romântica.
A natureza, assim como a mulher são importantes
pontos desse momento. O homem, idealizava a mulher como uma deusa, coisa divina
e, com isso, retornava ao passado, no trovadorismo, onde
as "madames" eram tão sonhadas e desejadas, mesmo que fossem
inatingíveis.
Ao procurar a mulher de seus sonhos e, então,
frustrar-se por não encontrá-la ou, muitas vezes, por encontrá-la e perdê-la, o
romântico entrava em constante devaneio. Para amenizar a situação, ao escrever
despojava todos os seus anseios, procurando fugir da realidade, usando do escapismo,
onde, não raramente, tinha a natureza como confidente. Outra forma de escapismo
utilizada, era o escapismo pela obscuridade, onde buscavam o bem-estar nos
ambientes fúnebres e obscuros.
Essas frustrações tidas por amores ou simples
desilusões com a vida, provocaram muitos suicídios. Daí a grande frequência dos
temas de morte nos poemas românticos, o que caracteriza o mal-do-século.
O Romantismo, não passou de uma forma de
repudiar as regras que contornavam e preenchiam o campo literário da época que,
juntamente com a ideologia vigente, traziam um enorme descontentamento. Este
momento em que a literatura presenciava, talvez fosse, o marco principal para a
definitiva liberdade de expressão do pensamento, que viria se firma,
tardiamente com o Modernismo.
Professora em Língua Portuguesa e Literatura
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