Antropofagia
Antropofagia é o ato de consumir uma parte, ou várias
partes da totalidade de um ser humano. O sentido etimológico original da
palavra "antropófago" (do grego
anthropos, "homem" e phagein, "comer") foi
sendo substituído pelo uso comum, que designa o caso particular de canibalismo na espécie
humana.. Por sua realização em contexto mágico cerimonial ou patológico não
deve ser classificada ou compreendida como um hábito alimentar
o que não se aplica ao canibalismo
na maioria das vezes associado ao comportamento predatório.
Observe-se também que muitos autores utilizam esses termos indistintamente.
A prática, conforme afirmam
antropólogos e arqueólogos, era encontrada em algumas comunidades ao redor do
mundo. Foram encontradas evidências na África, América do Sul, América do Norte,
ilhas do Pacífico Sul e nas Caraíbas (ou Antilhas).
Na maioria dos casos, consiste num tipo de ritual religioso / mágico como uma
forma de prestar seu respeito e desejo de adquirir as suas caraterísticas.
Antropofagia no
Brasil em 1557, segundo a descrição de Hans Staden.
Um dos grupos canibais mais
famosos são os astecas, que
sacrificavam seus prisioneiros de guerra e comiam alguns deles. Eles comiam os
prisioneiros de guerra e outras vítimas, numa prática conhecida como exocanibalismo
ou exofagia, ou seja, canibalismo praticado em indivíduos de tribos
diferentes. O canibalismo que consiste no acto de consumir parte dos corpos de
seus parentes e amigos mortos, é chamado de endocanibalismo. (ver
verbete específico: Antropofagia
na Mesoamérica)
Os poucos casos de canibalismo de
humanos registrados na história da sociedade ocidental moderna estão ligados a
situações limites, satisfação do instinto de sobrevivência do indivíduo perante
uma opção de vida ou morte.
Índice
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Ponto de
vista legal e social
Em 1846, um grupo de 90 pessoas
liderado por George Donner ficou preso em uma nevasca no alto de Serra Nevada, na Califórnia. Os
sobreviventes tiveram que comer a carne de seus companheiros mortos para
permanecerem vivos. Uma história semelhante ocorreu em 1972. Um avião da Força Aérea do Uruguai, que transportava a
Selecção de Rúgbi,
despenhou na Cordilheira
dos Andes. Apenas 16 pessoas se salvaram. O estoque de alimentos a bordo
acabou rapidamente e o único meio encontrado pelo grupo para sobreviver foi
recorrer aos corpos dos colegas mortos.
Do modo de vista legal, o
canibalismo de humanos, quando não se trata de uma situação limite, enquadra-se
como crime de mutilação e profanação de cadáver e um grave desrespeito pela
dignidade da pessoa humana. Segundo os valores da sociedade ocidental, é um ato
repugnante e imoral.
Canibalismo humano
como ritual
Os líderes tribais das ilhas Fiji comiam a carne de pessoas
consideradas especiais em sua comunidade. Para isso, utilizavam talheres
próprios, que não podiam ser usados para consumir qualquer outro tipo de
"alimento". Os habitantes da Ilha de Páscoa
gostavam bastante de carne humana. Os banquetes eram promovidos em lugares
isolados e apenas os homens podiam participar. Em 1912, no Haiti (Caraíbas), um grupo de
haitianos matou e comeu uma garota de 12 anos em uma cerimônia Voodoo.
No meio do caminho entre o ritual
e a sobrevivência está o caso da tribo Fore, da Papua-Nova Guiné.
Para compensar as carências de proteínas, passaram a realizar um ritual onde os
homens ficavam com os músculos, enquanto as mulheres e crianças, com o cérebro de outros membros
da tribo que tinha falecido. O canibalismo foi praticado desde finais do século XIX e durou até
a chegada dos colonizadores europeus na década de 1950, mas ainda no final do século XX foi descrito
pelo velejador Helio Setti Jr. um caso de uma
doença provocada por esta prática, que provocou a disseminação de uma doença
localmente denominada kuru, a doença de
Creutzfeldt-Jakob clássica.
Num esboço de classificação
dessas praticas tipo sacrificial, segundo Castro, temos:
- Canibalismo póstumo: se aproxima ou se incluí nos ritos
funerários
- Canibalismo bélico sociológico classicamente representado pelos
ritos de destruição dos inimigos pelos Tupinambás da costa brasileira no
séc. XVI.
Para esse autor um possível
esquema interpretativo desse tipo de sacrifício, que na concepção de Descola
corresponde à práticas animistas, ou seja, a concepção de um cosmos habitado
por muitas espécies de seres dotados de intencionalidade e consciência.
A prática do canibalismo nesse
sentido equipara-se aos ritos de caça, entendendo esta como uma forma de
guerra. Para Castro (o.c.) a caça é uma forma de guerra na perspectiva
estabelecida pela mitologia indígena, onde a visão que o homem tem dos animais
é equivalente à que os animais de outros animais e do próprio homem. Observe-se
que esse xamã sacrificador
– vítima (é relativamente comum eliminarem-se xamãs acusados de feitiçaria) tem
um papel fundamental nas “declarações” de guerra e existem guerras cuja causa
declarada é a vingança ou combate à feitiçaria inimiga
Antropofagia no Brasil
A antropofagia praticada pelos
grupos tribais do Brasil,
revertia-se de caráter exclusivamente ritual.
As noticias fornecidas pelos
cronistas do século XVI dão conta de sua importância na organização social
indígena, como fator indispensável aos ritos de nominação e iniciação. Estas
sociedades eram estruturadas em função da guerra, essas tribos desenvolveram
uma escala de estratificação social em que a aquisição de status baseava-se
fundamentalmente na capacidade de perseguir e matar o maior número possível de
inimigos.
O adversário capturado vivo era
conduzido à aldeia dos vencedores e ali conservado prisioneiro durante um
período no qual todas as honras e privilégios lhe eram concedidos: era
designado uma mulher para lhe fazer companhia e os melhores alimentos eram
colocados a sua disposição.
Durante vários dias preparavam-se
a festa em que o prisioneiro seria executado segundo cerimônia solene. A
execução, com violento golpe de borduna, cabia a quem o houvesse capturado,
podendo ser por este transferido a alguém merecedor de tal obséquio, em sinal
de agradecimento ou homenagem.
Ao prisioneiro competia manter-se
altivo e valente, retrucando as provocações e insultos numa demonstração de
total indiferença ante o fim próximo. Ao executor, ganhava então direito ao uso
de mais um nome, e seu corpo era incisado de modo indelével, para que se
perpetuassem a sua coragem e o seu valor. Dessa forma acreditavam que ao comer
a carne de um inimigo guerreiro, iriam assim adquir o seu poder e os
conhecimentos e as suas qualidades.
Com a vinda dos missionários jesuítas,
esses costumes foram fortemente combatidos, por serem incompatíveis com os
valores e padrões da sociedade europeia. O costume de comer carne humana foi
proscrito e reprimido pela força, com grave dano para um tipo de organização
social em que a antropofagia desempenhava relevante função como processo de
aquisição de prestígio e ascensão social.
Hoje em dia, a tribo dos Ianomâmis ainda conserva
o hábito de comer as cinzas de um amigo morto em sinal de respeito e afeto
Casos patológicos
extremos
Numa perspectiva psicanalítica
tal prática está associada aos bizarros comportamentos da psicose e perversão sádico -
psicopática. Freud referiu-se algumas vezes à essa manifestação patogência
inclusive co-denominando a fase oral por fase canibalesca
enquanto um conjuntos (complexos) de pulsões.
Em sua avaliação do processo civilizatório situa o canibalismo como um
comportamento possivelmente controlado ao lado dos desejos instintuais do
incesto e da ânsia de matar, os desejos inconscientes
que ameaçam o indivíduo e a civilização e que todos parecem unânimes em repudiar. Apesar de sua esperança
eventualmente se registram ocorrências de tal manifestação patológica. A saber:
O alemão Fritz Haarmann, conhecido como o
vampiro de Hannover, foi
condenado em 1924 pelo
assassinato de 30 garotos. Ele fazia salsicha da carne dos meninos, não somente
para consumo próprio, como também para venda.
No passado, alguns casos famosos
de canibalismo foram também associados a um contexto sexual. Por exemplo, nos
EUA, durante a década de 1920, Albert Fish estuprou, matou
e devorou várias crianças, alegando ter tido um grande prazer sexual resultante
de seus atos. O russo Andrei
Chikatilo, que matou pelo menos 53 pessoas entre 1978 e 1990, também era
praticante do canibalismo com conotações sexuais.
Em 2002, a polícia alemã
encontrou na casa de Armin
Meiwes, técnico de informática residente em Rotenburgo, em Hessen, pedaços de um corpo
humano no frigorífico. Tratava-se de Bernd-Jürgen Brandes, de 43 anos, que o
procurara em resposta a um anúncio colocado por Meiwes na internet procurando
por "jovens corpulentos entre 18 e 30 anos para abate". Além de
matá-lo, Meiwes cortou seu pênis
e comeu-o flambado. Meiwes contou à polícia que Brandes concordou que partes de
seu corpo fossem cortadas e cozidas. Depois de terem comido juntos, Brandes
teria concordado em ser morto.
Cultura
popular
Talvez o ícone contemporâneo mais
forte acerca do canibalismo seja o personagem principal dos filmes Hannibal, Dragão
Vermelho e O Silêncio
dos Inocentes. Este personagem se chama Hannibal Lecter, interpretado por
Anthony Hopkins (seu maior fetiche com carne humana era fígado com favas e
vinho chianti). o Português chulo tem na palavra comer
o significado de: possuir sexualmente; copular com; papar, traçar, faturar o que de certo modo vem reforçar a concepção
psicanalítica de aspectos eróticos associados à nutrição infantil em fase
precoce de seu desenvolvimento.
A antropofagia no Brasil se
constituiu como inspiração para um movimento artístico na primeira metade do
século 20 denominado movimento
antropofágico (ver: Manifesto
Antropófago).

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