Crônica
by Romi Mari
E de repente o ar gelado da manhã de inverno rasga-se pelos sinos da Igreja Matriz. Desde pequenininha convivendo com o mesmo som, não deveria mais me impressionar com ela. E contudo me recordo e me surpreeendo em cada nota, como se fosse a primeira vez que a ouvisse.
O sino chama para a missa em julho,o auge do inverno, na cidadezinha do interior, na qual nasci, e eu fico imaginando que pessoas quando ouvem o sino atendem perfeitamente ao seu chamado. O pecador que vai se aliviar de suas culpas no confessionário? E eu uma menina que se prepara para a primeira comunhão, teria que passar por este confessionário, olhei assustada, Nossa! que fila enorme, as pessoas na fila devem ter muitos pecados, pensei. Ou a maioria da fila mulheres que se confessam o fazem apenas porque este é o seu hábito dominical?
Conheci a Matriz quando menininha. Era a mais completa, a mais linda, que já vi em toda minha vida, As paredes eram expostas por tijolos rústicos. Havia tumbas de bispos e arcebispos. No lugar onde hoje está a cúpula, uma cobertura branca e provisória atraía pássaros – e sua música se confundia com a do coral.
Outra lembrança inesquecível é a das solenidades da Semana Santa. A liturgia era cantada pelo coral das freiras – o Havia o aroma do incenso, a litania entoada a capricho, o diálogo sagrado que se estabelecia entre os cantores.
Singularmente, no entanto, a maior sensação de paz que eu vivia, na missa de domingo das 8h da manhã, ia sempre com minha mãe, a minha preferida, era a da tranquilidade emanada do dever cumprido. Era obrigatório ir à missa? SIM, era. Era obrigatório participar dos cantos e orações coletivos e das liturgias. E tudo isso me transmitia um sentimento de serenidade e de dever cumprido que não tinha preço.
Não pensem que eu não me distraía com as comemorações eventuais. Sim as distrações eram constantes, que muitas vezes tinha dificuldade para perceber em que parte da missa estávamos, Não creiam que não me chamava a atenção um garoto de rosto bonito. Não acreditem que eu me postasse alheio a um belo homem.
Mas tudo isso fazia parte do espetáculo – a missa sagrada que se desenrolava à minha frente. Era um teatro, com seus rituais e seus dogmas – e era preciso apreciá-la com unção.
Hoje! NÃO vou à missa. O fim do rito subjugou minha fé. Prefiro ir à um culto evangélico.Mas não esqueço da minha linda época em que a MATRIZ de São Lourenço era minha vida integralmente.
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