sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Hamlet - O princepe da Dinamarca

Hamlet



O ator americano Edwin Booth como Hamlet em 1870, durante o monólogo Ser, ou não ser, eis a questão.
Hamlet é uma tragédia de William Shakespeare, escrita entre 1599 e 1601. A peça, situada na Dinamarca, reconta a história de como o Príncipe Hamlet tenta vingar a morte de seu pai Hamlet, o rei, executando seu tio Cláudio, que o envenenou e em seguida tomou o trono casando-se com a mãe de Hamlet. A peça traça um mapa do curso de vida na loucura real e na loucura fingida — do sofrimento opressivo à raiva fervorosa — e explora temas como a traição, vingança, incesto, corrupção e moralidade.
Apesar da enorme investigação que se faz acerca do texto, o ano exato em que Shakespeare escreveu-o permanece em debate. Três primeiras versões da peça sobrevivem aos nossos dias: essas são conhecidas como o Primeiro Quarto (Q1), o Segundo Quarto (Q2) e o First Folio (F1).Cada uma dessas possui linhas ou mesmo cenas que estão ausentes nas outras. Acredita-se que Shakespeare escreveu Hamlet baseado na lenda de Amleto, preservada no século XIII pelo cronista Saxo Grammaticus em seu Gesta Danorum e, mais tarde, retomada por François de Belleforest no século XVI, e numa suposta peça do teatro isabelino conhecida hoje como Ur-Hamlet.
Dada a estrutura dramática e a profundidade de caracterização, Hamlet pode ser analisada, interpretada e debatida por diversas perspectivas. Por exemplo, os estudiosos têm se intrigado ao longo dos séculos sobre a hesitação de Hamlet em matar seu tio. Alguns encaram o ato como uma técnica de prolongar a ação do enredo, mas outros a vêem como o resultado da pressão exercida pelas complexas questões éticas e filosóficas que cercam o assassinato a sangue-frio, resultado de uma vingança calculada e um desejo frustrado. Mais recentemente, críticos psicanalísticos têm examinado a mente inconsciente de Hamlet, enquanto críticos feministas reavaliam e reabilitam o caráter de personagens como Ofélia e Gertrudes.
Hamlet é a peça mais longa de Shakespeare, e provavelmente a que mais trabalho lhe deu,mas encontrou nos tempos um espaço que a consagrou como uma da mais poderosas e influentes tragédias em língua inglesa: durante o tempo de vida de Shakespeare, a peça estava entre uma das mais populares da Inglaterra e ainda figura entre os textos mais realizados do mundo, no topo, inclusive, da lista da Royal Shakespeare Company desde 1879. Escrita para o Lord Chamberlain's Men, calcula-se que sobre Hamlet já se escreveram cerca de 80.000 volumes, muitos deles certamente são obras de grandes nomes que foram influenciados pela tragédia shakespeariana, como Machado e Goethe e Dickens e Joyce, além de ser considerada por muitos críticos e artistas de todo o planeta como uma obra rica, aberta, universal e muitas vezes perfeita.

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O protagonista de Hamlet é o Príncipe Hamlet de Dinamarca, filho do recentemente morto Rei Hamlet e sobrinho do Rei Cláudio, irmão e sucessor de seu pai. Após a morte do Rei Hamlet, Cláudio casa-se apressadamente com a então viúva Gertrudes, mãe do príncipe. Num plano de fundo, a Dinamarca está em disputa com a vizinha Noruega, e existe a expectativa de uma suposta invasão liderada pelo príncipe norueguês Fórtinbras.

Horácio, Hamlet, e o Fantasma (Artista: Henry Fuseli 1798)
A peça abre numa noite fria do Castelo de Elsinore, o Castelo Real Dinamarquês. Os sentinelas tentam convencer Horácio, amigo do Príncipe Hamlet, que eles têm visto o fantasma do rei morto, quando ele aparece novamente. Depois do encontro de Horácio com o Fantasma, Hamlet resolve vê-lo com seus próprios olhos. À noite, o Fantasma aparece para Hamlet. O espectro diz a Hamlet que é o espírito de seu pai morto, e revela que Cláudio o matou com um frasco venenoso, despejando o líquido em seus ouvidos. O Fantasma pede que Hamlet vingue sua morte; Hamlet concorda, com pena do espectro, decidindo fingir-se de louco para não levantar suspeitas. Ele, contudo, duvida da personalidade do fantasma. Ocupados com os assuntos do estado, Cláudio e Gertrudes tentam evitar a invasão de Fórtinbras. Um tanto preocupados com o comportamento solitário e errático de Hamlet, acrescido de seu luto profundo diante da morte do pai, eles convidam dois amigos do príncipe - Rosencrantz e Guildenstern - para descobrirem a causa da mudança de comportamento de Hamlet. Hamlet recebe os companheiros calorosamente, todavia logo discerne que eles estão contra ele.
Polônio é o conselheiro-chefe de Cláudio; seu filho, Laertes, está indo de viagem à França, enquanto sua irmã, Ofélia é cortejada por Hamlet. Nem Polônio nem Laertes acreditam que Hamlet nutra desejos sinceros com Ofélia, e ambos alertam para ela esquecê-lo. Pouco depois, Ofélia fica alarmada pelo comportamento estranho de Hamlet e confessa ao pai que o príncipe irá ter com ela num dos aposentos do castelo, mas olha fixamente para ela e nada se diz. Polônio assume que o "êxtase do amor" é o responsável pela loucura de Hamlet, e informa isso a Cláudio e Gertrudes. Mais tarde, Hamlet discute com Ofélia e insiste para que ela vá "a um convento".

O desmascaramento de Cláudio é atingido através de um recurso singular: o teatro no teatro.(Artista: Maclise)
Hamlet continua sem saber se o espírito lhe contou a verdade, mas a chegada de uma trupe artística em Elsinore apresenta-se como uma solução para a dúvida. Ele vai montar uma peça, encenando o assassinato do pai - assim como o espectro lhe relatou - e determinar, com a ajuda de Horácio, a culpa ou a inocência de Cláudio, estudando sua reação. Toda a corte é convocada para assistir o espetáculo; Hamlet fornece comentários durante toda a encenação. Quando a cena do assassinato é realizada, Cláudio, "muito pálido, ergue-se cambaleante", ato que Hamlet interpreta como prova de sua culpabilidade. O rei, temendo pela própria vida, bane Hamlet à Inglaterra em um pretexto, vigiado por Rosencrantz e Guildenstern, com uma carta que manda o portador ser assassinado.
Gertrudes, "em grandíssima aflição de espírito", chama o filho em sua câmara e pede uma explicação sensata sobre a conduta que resultou no mal-estar do rei. Durante o caminho, Hamlet encontra-se com Cláudio rezando, distraído. Hamlet hesita em matá-lo, pois raciocina que enviaria o rei ao céu, por ele estar orando. No quarto da rainha, têm um debate fervoroso. Polônio, que espia tudo atrás da tapeçaria, faz um barulho; Hamlet, acreditando ser Cláudio, dá uma estocada através do arrás e descobre Polônio morto. O Fantasma aparece, dizendo que Hamlet deve acolher sua mãe suavemente, embora volte a pedir vingança.

Hamlet





Temática e interpretação

"Cada posição crítica aponta para uma faceta de um todo e, juntas, possibilitam uma apreciação global. Não se pode analisar Hamlet a partir de um ponto de vista estritamente psicológico, ou político, ou ético, ou social, porque todos eles são válidos, as abordagens são múltiplas e os problemas contidos na peça são complexos e universais."

O poeta e tradutor brasileiro Péricles Eugênio da Silva Ramos considerou a peça — em sua tradução de Hamlet — como "[uma] obra rica, [que] permite as mais diversas interpretações e as apreciações mais extremadas. De fato, desde a realização de Hamlet, há mais de quatro séculos, Shakespeare conseguiu produzir uma obra que abriu diversas discussões em torno de seu enredo e de suas personagens, onde alguns a consideram como indestrutível e, além disso, fundamental para a compreensão do ser humano. Hamlet adequou-se em ramos e áreas humanas com abrangência inédita para uma obra teatral, sendo estudada sob as óticas da ideologia, simbologia, hermenêutica, sociologia, etc.
O prestígio inicial de Hamlet deu-se no século XIX com o advindo do Romantismo — período que presenciou a origem de estudos mais profundos e mais sérios acerca das obras de Shakespeare — e a popularidade da peça lhe ajudou a entrar no século XX (que lhe doou as compreensões mais abrangentes e as mais tradicionais) com ainda mais vigor, permitindo a ela dar novas roupagens e também contribuições de novos elementos aos variados mecanismos que o século passado se preocupou em criar ou em desenvolver.Portanto, não é de se espantar que a peça adquiriu um grande histórico no que diz respeito a suas interpretações, que foram feitas por grandes nomes da literatura, da ciência e da filosofia, abrangendo desde a religião até a psicanálise, como mostraremos a seguir:

Religião

Hamlet

A misteriosa morte de Ofélia (Detalhe de Millais, 1852): abre-se um tema religioso quando os coveiros discutem se ela merece enterro cristão por ter se suicidado.
Escrita numa época de turbulência religiosa, e no despertar da Reforma Inglesa, Hamlet é alternadamente Católica (ou supersticiosamente medieval) e Protestante (ou conscientemente moderna): o fantasma do Rei Hamlet diz que está no purgatório e morrendo sem últimos sacramentos. Isso e a cerimônia fúnebre de Ofélia, que é caracteristicamente católica, perfazem a maior parte da conexão do Catolicismo com o enredo da peça. Certos estudiosos têm observado que as tragédias de vingança surgem em países tradicionalmente católicos, como a Espanha e a Itália; e, no entanto, isso é um paradoxo, visto que a doutrina católica prega o dever para com a família e com Deus. O dilema de Hamlet, então, é se vingar de seu pai matando Cláudio, ou deixar a vingança nas mãos de Deus, como exige sua religião.
Grande parte do Protestantismo de Hamlet resulta provavelmente em sua localização na Dinamarca – que era desde o tempo de Shakespeare predominantemente um país protestante, embora não esteja claro se a localização ficcional da peça nesse país esteja realmente destinada a esse fato. A obra faz menção a Wittenberg, onde Hamlet, Horácio e Rosencrantz e Guildenstern frequentaram universidades, e em que Martinho Lutero pregou pela primeira vez suas 95 teses. Quando Hamlet diz que "há uma iniludível providência na queda de um pardal." ele reflete a ideia protestante de que a vontade de Deus – Divina Providência – controla até mesmo o menor evento.Diferentemente, no  a mesma passagem aparece da seguinte forma: "Há uma providência predestinada na queda de um pardal.", o que sugere uma ligação ainda mais forte com o protestante João Calvino, através da doutrina da predestinação. Certos estudiosos estimam que essa passagem tenha sido censurada, pois só aparece em .

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